
Dificilmente se poderá contar esta história de uma aventura artística e comunicacional - que nos informa sobre o modo como a música popular urbana floresceu, e estiolou, em Portugal durante os anos 80 - sem a referência contextual ao ambiente social e psicológico em que ela teve origem.
E esse foi o ambiente dos anos 70 – os anos da crise petrolífera, dos resquícios do Maio de 68, das heranças do flower-power, do conflito ideológico, do 25 de Abril, do 28 de Setembro, do 11 de Março, do 25 de Novembro. Havia greves em França e em Inglaterra. Dois activistas da ETA foram condenados à mote por garroteamento - houve manifestações em Lisboa e, na sequência delas, foi assaltada e saqueada a embaixada espanhola. O Papa João Paulo I morreu em circunstâncias estranhas, o Papa João Paulo II veio de uma terra estranha. As Brigadas Vermelhas abalam Itália – o primeiro ministro Aldo Moro foi raptado e assassinado, a gare ferroviária de Bolonha alvo de um atentado bombista. Começou a guerra civil no Líbano. O primeiro ministro português morreu num estranho acidente de avião, até hoje inexplicado. As FP-25 começavam a tornar-se notadas, na esteira de uma série de atentados bombistas levados a cabo por forças de extrema-esquerda, e de extrema-direita.
Eram tempos de guerrilha: a juventude urbana, sobretudo a lisboeta, entretinha-se digladiando-se em batalhas campais, de liceu para liceu. Não havia qualquer ideia de futuro – e a mensagem mais comunal, a certeza mais evidente, era com efeito a palavra de ordem que os punks (uma corrente que, como mais tarde se provou, trazia consigo fortes influências dos situacionistas europeus dos anos 60) haviam lançado a partir de Londres: «No Future».

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