31.10.06

A Noiva...como foi vista no Lux a passar pelo Vox.



Chega de estaticismo! Ordem de soltura aos frames!
27 de Fevereiro de 1987, o 2º dia de concertos de apresentação de "Macau".
De todos os registos de concerto reencontrados, é aquele que se apresenta em melhores condições técnicas. O som foi recuperado por Rui Fingers e Pedro Aires Magalhães.
Excerto do que passou no Lux após a ante-estreia de Brava Dança.

27.10.06

Um mistério

Algumas incertas mãos raptaram ontem os cartazes de «Brava Dança» que haviam ficado expostos na Culturgest e levaram-nos para local ignoto.
Sabemos que são mãos hábeis.
Esperamos que sejam também mãos enternecidas, mãos frementes, mãos esclarecidas.
Em tal caso, os cartazes estariam bem entregues.

Talvez a propósito, eis um extracto de um outro poema de Herberto Helder («Onde Não Pode a Mão», in A Cabeça Entre as Mãos, ed. Assírio e Alvim, 1982):

(...) Há
que ter a transparência da morte,
É preciso ser dental : ter entranhas : ser igual
ao furor das coisas :
da metáfora
das coisas, Um pouco de acrescento
manual ao raio que destroça
a mão, Ou engolir no tubo assoprado
tanto
do ar do fundo, Há que ser
ferramenta de música

26.10.06

Quatro memórias de anteontem








Agitação no átrio da Culturgeste


















François d'Artemare e Fátima Correia na mesa Filmes do Tejo
















Patrícia e Rui Pregal da Cunha
com o verdadeiro chapéu de «O Inventor»












Fernando Pêra, já com o ingresso na mão

22.10.06

Infinita Dança















Domingo feio em Lisboa. Retoques a 48 horas da estreia.

Excertos de uma conversa com Sandra Oliveira












(Foto de Sandra Oliveira; Artwork TóTrips /Mackintóxico, descolorido por nós)


[No CCB, ao final da tarde de 3 de Outubro de 2006, enquanto, no estúdio, a máquina ultimava a versão final de «Brava Dança»]

A partida / o arranque

José Francisco Pinheiro
Conhecemo-nos em 1991 no Johnny Guitar. O Jorge era membro do júri do Concurso de Música Moderna e eu ia lá filmar as sessões para o programa Pop-Off. A certa altura eu também passei a integrar o júri e, em Agosto desse ano, o Jorge voltou a colaborar com a Latina-Europa e veio para a equipa do Pop-Off. Desde então já fizemos diversas coisas juntos. No nosso blogue existe por exemplo uma cópia de O Bom Pastor, um mini-documentário sobre o último disco de José Afonso que fizemos em 2000, e que aliás coincide com o início deste projecto.

Jorge Pereirinha Pires
Como é que surge a ideia? Em 1995 eu tinha publicado um livro sobre os Madredeus e, uns anos depois, numa noite em casa do Pedro Aires Magalhães, vi pela primeira vez uma colecção de recortes de imprensa sobre os Heróis do Mar. Eu tinha estado naquele primeiro concerto dos Heróis do Mar, bem como no concerto de apresentação dos Faíscas e em vários outros dos Corpo Diplomático. Durante algum tempo pensei que era material fascinante para um novo livro. Mas, nessa época, eu não tinha vida nem vontade para voltar a mergulhar num trabalho solitário. Além disso, já há algum tempo que eu e o José queríamos fazer qualquer coisa juntos. Então comecei a meter veneno no corpo deste rapaz: “O que era giro era fazermos um documentário sobre os Heróis do Mar…”

José
Ainda houve muitos brainstormings antes de decidirmos fazer o filme. E a ideia viajou por diversas zonas de Lisboa: começou em casa do Jorge, em Alvalade, antes de ele se mudar para a Ajuda. E eu, nessa altura, morava na Rua do Salitre, numa casa que ainda serviu de palco às primeiras entrevistas.

Jorge
No Verão de 2000 elaborámos uma primeira versão do projecto para nos candidatarmos ao apoio de pesquisa e desenvolvimento do ICAM. Fomos contemplados com os habituais 5.000 euros, que gastámos muito rapidamente…

José
… entre sessões de pesquisa nos arquivos da RTP e uma viagem a Londres para fazermos aquela que na altura era a entrevista mais difícil de conseguir – a do Paulo Pedro Gonçalves, que se tinha mudado para lá já há sete anos. Quando regressámos a Lisboa, mais animados, fizemos na Rua do Salitre as entrevistas ao Pedro Aires Magalhães, ao Fernando Pêra e ao Rui Pregal da Cunha, que regressara de Londres havia pouco tempo.

Jorge
Entretanto, seguindo uma ideia do François d’Artemare, encontrámos nos arquivos do INA as imagens dos Heróis do Mar ao vivo em Paris, em 1982.

José
O projecto foi reelaborado e apresentado ao concurso de apoio à produção no ICAM, mas dessa vez não fomos seleccionados. Nem na segunda vez.

Jorge
Entretanto, com a chegada do governo de Durão Barroso, houve um ano em que os concursos do ICAM nem sequer chegaram a ser lançados. Portanto, só à terceira vez que fomos a concurso obtivemos apoio. E tinha-se passado algum tempo...

José
Fizemos aquelas primeiras entrevistas, e depois parámos – o projecto não parecia ir a lado nenhum.



Na estrada

Jorge
A única maneira de fazer isto era ir fazendo. Creio que até agora nunca se tinha feito um filme destes, e percebemos muito bem porquê. Ao longo destes seis anos, a ideia inicial atravessou as mais diversas circunstâncias e toda uma sucessão de entusiasmos e desencantos. E é preciso sobreviver sempre aos desencantos porque a única coisa que não se pode fazer é recuar. Por isso, o filme foi tendo várias versões, e podia ter tido várias outras formas. A forma que tem é algo que se poderia dizer «etnográfico»: o que um documentário faz é mostrar formas de vida.

José
No fundo, a ideia era contar a história desta aventura, num cenário contemporâneo que até hoje não fora retratado. Nunca houve uma reflexão sobre a geração que viveu ainda muito jovem a confusão dos anos próximos ao 25 de Abril, e mais tarde aquela espécie de explosão musical dos anos 80. Em geral fala-se do “Boom do Rock Português” – mas isso foi um fenómeno comercial em que se vendeu alguma da música que se fazia. Ora a coisa era muito mais ampla do que isso...

Jorge
Ou seja, até parece que antes disso não havia música portuguesa. Mas evidentemente que havia. E aquilo de que se fala no filme – os Tantra, o movimento Punk, os Faíscas – é somente uma parte da história da música portuguesa dos anos 70. O chavão do “boom” não nos informa sobre nada. O que andava toda esta gente a fazer antes? Nós começámos por aí, pelas histórias de alguns deles, ainda antes do 25 de Abril.

José
Um pouco ingenuamente pensámos até que íamos começar um pouco antes e acabar bastante depois e que o filme ia ter mais de duas horas. E sabíamos que o nosso trabalho ia ser uma arqueologia.

Jorge
Houve até uma altura em que parámos o que andávamos a fazer para nos dedicarmos a ver todo o cinema português entre o 25 de Abril e 1980. Era importante, para percebermos o que se tinha feito, o que se passava na cabeça das pessoas nessa época, e o tipo de olhar que se dedicara a tudo isso. Também vimos algum cinema português dos anos 80, e, embora se citem alguns desses filmes, outros ficaram de fora, como A Rapariga no Verão, de Vítor Gonçalves, onde participam como figurantes alguns elementos dos Heróis do Mar e várias outras figuras que davam cor à Lisboa desses anos.

José
Não tínhamos estrutura, tempo e meios para fazermos uma história da música popular portuguesa desde os anos 60. Não que isso não fosse necessário. Mas com as dificuldades que há para encontrar material na RTP, é escusado. É inconcebível que nós tenhamos conseguido imagens da RTP, mas que a RTP não tem!

Jorge
As imagens que conseguimos têm várias fontes. Andámos a incomodar muita gente, a revolver-lhes as arrecadações e a despejar caixotes em busca de cassetes – áudio e vídeo – num processo que, aliás, nos levou bem para além dos Heróis do Mar. Mas depois há dificuldades técnicas: em dado momento encontrámos uma cassete em formato Betamax, que só vários meses depois conseguimos ler e transcrever, porque hoje em dia já quase ninguém tem leitores Betamax em estado funcional. Também houve cassetes cuja fita se partia e tinham de ser restauradas fisicamente. Enfim, foram horas e horas ocupadas com os mais diversos trabalhos.

José
Essas imagens com fantasmas, gravadas em VHS e Betamax nos anos 80, provavelmente são os únicos registos que existem. Além disso, é bom recordar que as imagens mais antigas dos Heróis do Mar são francesas. Três meses depois de eles surgirem em Lisboa, a ORTF filmou-os como uma proposta artística válida que interferia no meio parisiense. Também houve a felicidade de um dos membros do grupo ter uma câmara, com a qual ficaram registados alguns momentos da vida dos Heróis.

Jorge
A certa altura, o Pedro Aires Magalhães foi contagiado pelo nosso entusiasmo. E isso foi fundamental.

José
Na verdade, há um ano e meio atrás tínhamos poucas imagens. Se não houvesse o empenho e a organização do Pedro, nunca teríamos obtido boa parte do material. Por exemplo, foi ele que se lembrou das imagens do António José Almeida, que vimos pela primeira vez no início do Verão de 2005. E só este ano, em Fevereiro, é que digitalizámos o arquivo fotográfico do Pedro. E também foi em casa dele que se encontrou a cassete com o som dos Faíscas ao vivo em 1978, que sobrevivera a um incêndio mas ainda pôde ser restaurada.

Jorge
A partir de certo ponto, faz-se o filme com o que há, conta-se a história, e mostra-se qualquer coisa que não estava visível até agora, procurando elaborar um objecto que possa aumentar as conexões, alargar os horizontes do mundo conhecido. Do ponto de vista artístico o exercício interessante é sempre esse. Há ligações afectivas, e espirituais até, a estas pessoas, mas a motivação aqui passa por documentar o nascimento e a morte de um processo artístico. Tradicionalmente, o documentário é um processo de conhecimento, uma relação estabelecida entre um sujeito e um objecto. Neste caso optámos por anular-nos enquanto sujeito do documentário: o filme não tem voz off, não tem texto, e, do ponto de vista do ilusionismo que a linguagem cinematográfica é, é como se o objecto se contasse a ele próprio. Mas isso é uma construção que deu muito trabalho a conseguir. No fundo, somos manipuladores.

José
Manipulamos em plena consciência, a história vai por onde achamos que deve ir. Por isso, fazemos nela uma espécie de inscrição: embora pareça que sim, na verdade não seguimos a cronologia. Vamos à frente e atrás para fazer sentido. Sacudimos o tempo, por assim dizer. Mas a verdade é que queríamos ver um filme destes. E, como não havia nenhum, tivemos de o fazer.

Jorge
A ideia de criar um filme em que não houvesse texto «off» e em que os discursos pessoais fossem submetidos à lógica de um sentido comum foi uma das primeiras coisas de que tivemos a certeza, a premissa inicial desde o ano 2000. Em dado momento pensámos incluir frases em ambiente gráfico, mas de tudo isso sobrou apenas a citação inicial de Herberto Helder: “Ninguém tem mais peso que o seu canto”. Uma frase terrível e absoluta – nada lhe escapa.

José
Acima de tudo, sentimo-nos muito honrados com a confiança que os cinco membros dos Heróis do Mar depositaram em nós, bem como os outros entrevistados. É realmente um privilégio sentir essa confiança no nosso trabalho.

Jorge
São cinco pessoas muito especiais. E o exercício de nos confrontarmos com o passado nunca é isento de riscos.

José
Resgatar a memória é um mergulho muito mais alto e mais arriscado do que documentar o presente. Houve uma altura em que a nossa situação era dramática: como é que conseguimos ilustrar esta história se não temos imagens?





Ponto de chegada

Jorge
O que eu espero é que o filme seja eficaz de cada vez que alguém o vir. Quisemos fazer uma coisa que suscitasse um sentido comum, construir um dispositivo que apelasse a uma certa ideia de comunidade.

José
Julgo que fomos buscar o espírito daquela época e ele nunca nos abandonou. A nossa companhia mais assídua foi a adversidade. Mas também a persistência, o engenho, a amizade, a solidariedade.

21.10.06

Quase feito.



















Será muito parecido com isto.
Por Mackintóxico, aka Tó Trips.