«Um criador não é alguém que trabalhe para o prazer.
Um criador só faz aquilo de que sente absoluta necessidade.»
Gilles Deleuze, «O que é o acto da criação?», 1987 (ver video)
Gilles Deleuze, «O que é o acto da criação?», 1987 (ver video)
O nosso Dantas surgiu na pele de João Lopes: desviou por instantes o olhar dos videoclips de Madonna e das páginas da Vanity Fair, deixou-o pousar com displicência sobre um objecto alheio a esse universo que tanto preza, e quedou-se perplexo. Ainda formulou a pergunta correcta («De que é que o filme nos fala quando fala dos Heróis do Mar?»), mas encontrar a resposta esteve para além das suas forças, muito embora existissem algumas respostas mesmo ali à mão: o filme «fala» por exemplo de uma ética, fala do tempo, fala de uma ética no tempo.
De alguém que ganha a vida como crítico de cinema esperar-se-ia uma outra atitude, mais dinâmica e activa - por exemplo, a de analisar que tipo de cinema é que este filme invoca; e, sobretudo, que não caísse em erros de principiante, como o de confundir o material recolhido para o filme com o material editado no filme; ou o de anunciar a falsa novidade de que o filme «já tem blog», quando na verdade o tem desde Junho de 2006.
João Lopes não encontra mais do que o enfado e o vazio. Não admira: vistas as coisas, ele também não procura muito mais do que isso, ainda que a essa penosa indolência acrescente alguma insolência.
No entanto, do que precisávamos era de ideias.
E, em tais circunstâncias, a nota não pode ser melhor.
Autor: João Lopes
Título: «Música e Política»
Edição: Diário de Notícias 08Mar2007; republicado online
Classificação: 7/20
5 comentários:
Era bom que este blogue agitasse as águas mais uma vez no nosso cenário. Um tipo de agit-prop do século XXI, uma sequência do AXO.
Já publiquei o texto promocional do filme lá no meu espaço. Para lembrar os mais esquecidos...
Abraço
Deixem-me dar-vos os parabéns pelo excelente documentário que produziram. Pena só estarem no cinema 4 pessoas a ver o filme, as pessoas realmente não dão valor a que faz algo de útil, preferem ver filmes estrangeiros do que ver uma produção portuguesa e muito bem conseguida.
Nasci em 84, não tive oportunidade de conhecer os Heróis do Mar enquanto banda, só aprofundei o meu interesse pela banda quando lançaram o Best Of em 2001.
Fantástico documentário sobre a maior banda portuguesa de todos os tempos, pena terem acabado. Seria bastante interessante juntarem-se de novo para criarem um novo álbum, acho que iria ser bem recebido.
Mais uma vez parabéns
O autor do filme dizer que o crítico de cinema que não gostou do seu filme - João Lopes, neste caso - não tem ideias, parece-me uma reacção que não abona nada a seu favor.
Caro Daniel:
no seguimento da «resposta personalizada» que já despachei anteriormente, sugiro que consultes:
a) outras polémicas artísticas (há muitas, ao longo do século XX e nos séculos anteriores);
b) outras polémicas sobre cinema relativas a João Lopes (há algumas);
c) informação relativa à actual situação da cultura na era das tecnologias digitais - a época em que se podia lançar atoardas do alto de uma inexpugnável torre de marfim, sem que nada nem ninguém nos pudesse atingir de volta, é definitivamente uma coisa do passado. E, sendo acérrimos defensores da liberdade de expressão, não esperamos certamente limitar a nossa.
Por outro lado, como já tive ocasião de dizer, fazer «crítica» não é opinar, e muito menos propagar aos quatro ventos e em múltiplos suportes as vantagens ou desvantagens das «estreias da semana». «Fazer crítica» é fazer um outro tipo de discurso. E é desse que continuamos a sentir falta.
Cumps
JOPP
Acabei de ouvir o vosso "movimento" na Antena 3, mts parabéns, verdadeiros "heróis do mar", desse mar selvagem! Tenho imensa pena de já não existirem heróis. Começando pelos herois de TV, BD(americana), e herois da nossa aculturação, Lusitana e outras mais...
Qualquer atitude pelos nossos direitos e liberdades, começa mesmo pelo apoio cultural.
Enquanto ao crítico João Lopes, sinceramente, penso que não sabe interpretar realidades, nem boas nem más, da nossa cultura actual, sou apennas de uma geração pós-Heróis do MAr, não é muito dificil de os perceber...
Tenho de ver o vosso filme...
Boa sorte e apareçam! apenas para acordar esta juventude.
Ainda não percebi bem é como são classificados os críticos de Arte, se são apenas estudantes de Artes frustrado, apenas um "opinador" ou apenas uma pessoa culta que "sente" e percebe as culturas dos movimentos artísticos?
A crítica da Arte deve ser interpretada na íntegra da realidade, não aparecem do nada sem factos credíveis e com absoluta justa causa.
Será que ser crítico é estar apenas no sentido oposto? ou apenas limitar-se a propagar ideias noutros sentido?
para: JOPP
exigir não é igual a liberdade...
O que consegue fazer realmente numa hora? salvar o Mundo das Guerras nucleares, do movimento da Camada de Ozono e a mudança climatérica? se bem que é melhor pensar em, quanto é que me vão pagar ou patrocinar qualquer movimento para o progresso positivo do interesse Mundial?
A|P
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